SECA DE SONHOS
 
Fui choupo moço e em chuva de semente
Aspergi os meus sonhos pelo ar,
A querer ver alegres e em torrente
Brotos de sonho ao sol vindo espiar.
 
Pensei não ser preciso nem regar,
Pra que? Se generoso ou inclemente
O tempo, cedo ou tarde, ia criar
Uma vasta floresta, à minha frente.
 
Mas dos sonhos lançados, ao rés das guias
Uns secaram, outros deram alergias
E a seca sobre os sonhos espirrou...
 
Hoje, à beira do rio, sou choupo velho
A definhar mirando no espelho
D’água os galhos secos sem ter flor.
 
Erigutemberg Meneses